sábado, 2 de maio de 2015

Sinto que tudo em ti (ainda) me pertence.




 Nunca ninguém se vai aperceber da forma repentina como dobras os dedos dos pés quando estás descalço (o pouco tempo que estás). Nunca ninguém notará que o teu dente incisivo esquerdo está ligeiramente lascado ( e eu sei o porquê). Nunca ninguém irá perceber o teu jeito de roer as unhas, os dedos e as "peles" só porque sim. 
Nunca ninguém irá reparar que são quatro as folhas de papel higiénico que usas e nem irão reparar na forma como as dobras sobre a perna direita. Ninguém saberá a sequência que cumpres quase que minuciosamente quando te ensaboas no banho. Nunca ninguém irá despertar em ti a eterna criança que trazes no peito como eu despertei.  Ninguém será capaz de conhecer por inteiro esse teu sorriso genuíno, porque esse, quando o mostras, eleva ligeiramente o teu nariz e dá-te as rugas mais bonitas que eu já vi. Nunca ninguém desviará a atenção da tua cicatriz por cima da sobrancelha para reparar no teu cabelo branco que tanto te incomoda. (não digo tanto, vá, mas que te incomoda q.b.) 
E espero nunca, nunca, nunca, nunca me esquecer de todas as tuas manias e todos os teus cuidados , todos os teus sorrisos, as tuas lágrimas, as tuas mordidelas, todos os teus detalhes e todos os teus "amo-te" ' s .  Guardá-los-ei, e muito bem guardados, para que nunca os roubes de mim para qualquer outra pessoa. Deixa-os ficar comigo. 
Quero dizer-te tudo o que sei de ti e tudo o que de ti ficou,  mas as palavras não são suficientemente  intensas para o expressar. (...) 
Talvez um dia cases, comemores inúmeras datas com relativa importância, talvez tenhas filhos e até mesmo o cão que sempre quiseste. Talvez nesses dias irei cruzar-me contigo e reconhecer-te como o eterno, ainda que estejas de costas. Não imaginas a dor que me corrói e medo danado que me dá só de pensar que, talvez um dia, possas encontrar alguém melhor que eu, alguém que seja melhor para ti do que eu fui... mas nunca... nunca,  ninguém te saberá como eu te sei !
Ainda me estou a acostumar à tua ausência rotineira que já leva quase meio ano.


Entretanto, as tuas meias atiradas ao chão do meu quarto ainda continuam por aqui.(...)

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